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MANGUEIRA, PORTELA E MOCIDADE SÃO DESTAQUES EM MAIS UM DIA TRISTE DE DESFILE

Bernardo Araujo - O Globo Tamanho do textoA A A
RIO - Não tem jeito: o carnaval 2017 vai ficar na História como aquele em que acidentes graves marcaram os dois dias de desfiles do Grupo Especial. Depois do carro alegórico desgovernado do Paraíso do Tuiuti ferir 20 pessoas, na abertura do desfile de domingo, nesta segunda-feira a alegoria da Unidos da Tijuca que representava a cidade americana de Nova Orleans desabou, ferindo pelo menos 12 pessoas, além de outras oito que passaram mal e precisaram de atendimento. Uma lástima — além do óbvio e gravíssimo dano físico e moral aos feridos — que bons carnavais como o da Mangueira (que saiu confiante no bicampeonato), Portela, Imperatriz Leopoldinense e outros corram o risco de cair no esquecimento.
Leia a crítica do primeiro dia de desfiles: Maculado por acidente, domingo teve bom nível de desfiles, mas nenhum destaque absoluto entre as seis escolas
A segunda noite de desfiles foi aberta pela União da Ilha do Governador, com a lenda do povo banto “Nzara Ndembu — Gloria ao Senhor Tempo”, do carnavalesco Severo Luzardo, que estreava no Grupo Especial. Animada pelo puxador Ito Melodia, um dos melhores em atividade, e pela bateria precisa do experiente mestre Ciça, a tricolor insulana fez um belo papel na avenida, bem vestida e dotada de bom gosto nas alegorias. No entanto, problemas com um dos carros alegóricos fizeram a escola abrir um gigantesco buraco no começo da pista, além do samba-enredo — pesado e cheio de palavras como “Nzambi”, “Nzumbarandá”, “Katendê” e outras — não colaborar.
Um desfile bem diferente veio em seguida, com a São Clemente de Rosa Magalhães. A vitoriosa carnavalesca, que completou 70 anos em janeiro, retratou a corte de Luís XIV na França no enredo “Onisuáquimalipanse”. As fofocas palacianas trouxeram uma Rosa brincando de ser Rosa, com fantasias caprichadas nos mínimos detalhes, penachos, chapéus, um baile de carnaval em Versalhes, bem embalado pelo puxador Leozinho Nunes. Faltou à aurinegra de Botafogo um mergulho mais profundo na história, que ficou com um sabor adocicado de “Sessão da Tarde”.
Os enredos pouco explorados foram muitos. Isso também aconteceu na Mocidade Independente de Padre Miguel, a escola seguinte a se apresentar. Mas em outro nível. O divertido boi-com-abóbora “As mil e uma noites de uma 'Mocidade' pra lá de Marrakesh” levou um desfile de puro entretenimento à avenida, a começar pela comissão de frente em que Aladim “voava” em um tapete mágico, em um espetacular truque de ilusionismo. Elementos do mundo árabe foram bem explorados pelo carnavalesco Alexandre Louzada em castelos, mesquitas, camelos e outras esfihas, com o verde de Padre Miguel sempre presente. O que esteve ausente foi Padre Miguel, o bairro, que o enredo prometia levar às Arábias. Entre os Saaras de lá e de cá, só o deserto africano apareceu. Mas a Mocidade fez bonito e é candidata ao Desfile das Campeãs, no próximo sábado.

A noite ia bem até o início do desfile da Unidos da Tijuca. A queda do carro de Nova Orleans comprometeu a apresentação inteira, que aconteceu com integrantes chorando e o heroico puxador Tinga pedindo alegria aos tijucanos. A comissão de carnaval que conta com o experiente Mauro Quintaes tinha tido diversas boas ideias, como o carro da Guerra Civil americana, e fantasias como a do clipe de “Thriller”, de Michael Jackson. Mas a Tijuca apenas arrastou sua corrente, tentando encontrar forças em si mesma e no público, até o fim do desfile.
Coube à Portela a tarefa de levar ânimo a um Sambódromo ainda tenso, e o desfile comandado por Paulo Barros, com o enredo “Quem nunca sentiu o corpo arrepiar ao ver esse rio passar”, sai com 10 no quesito animação. A escola falava de vários aspectos da água a partir do clássico “Foi um rio que passou em minha vida”, do portelense Paulinho da Viola, e o carnavalesco que se consagrou na Unidos da Tijuca conseguiu dar, ao mesmo tempo, sua cara e a da escola ao desfile, como se via na imponente águia do abre-alas. Como diz o samba, cantaram pastoras e lavadeiras para esquecer a dor, mas faltou arrendondar um pouco mais o enredo.
A noite foi fechada pela campeã Mangueira, que satisfez todas as expectativas criadas em torno de “Só com a ajuda do santo”, enredo do jovem carnavalesco Leandro Vieira, o mesmo que surpreendeu a todos com “A menina dos olhos de Oyá”, homenagem a Maria Bethânia que levou o título em 2016. Com extremo bom gosto e leveza, a Mangueira contou com um dos melhores sambas do ano, na voz do puxador Ciganerey, e seu chão poderoso — apesar do excesso de “diretores” inúteis, a passeio na avenida — para levantar a passarela. O enredo poderia ter enveredado mais por outras religiões além da católica, mas os gritos de “bicampeã” precisam de cada vez menos ajuda dos santos para se tornar realidade.
Fonte: Extra. Globo.com